Entre quadros
(Post traducido al portugués por Xico N. F. del español Entre Cuadros)
Sintra. 12 pm. Rox Lawson recebe-nos na sua casa. Um sorriso iluminado de quem sabe receber, numa manhã coberta por nuvens altas. Uma bebida na varanda,cumprimentos e piadas de boca para boca. Conversa animada, o almoço esperando na cozinha. Numa bandeja pétalas frescas dançam entre limões e azeitonas. Limões amadurecidos nos socalcos por trás da casa. A horta-jardim da artista.
Rox senta-nos entre paredes que nos mostram as suas últimas obras. Jogos de energia, intuição e natureza. Ervas altas e cascas de arvores milenárias. Texturas de pampa, ribeiros de infância. Recordações de uma vida que cruzou continentes e oceanos. A cada momento relâmpagos de cor que fixam o olhar com a força de quem se entrega em cada pincelada.
A tempestade aproxima-se, a primeira após três meses de sol e vento. As linhas fluem entre terra e água. Há algo nos quadros de Rox Lawson que incendeia a alma e nos transporta a lugares da área do fantasmagórico. A castelos perdidos na bruma, a lagunas onde ainda se ouve o canto de sereias, a atlântidas entrevistas. Ao universo que Rox Lawson comparte em cada uma das suas telas com toda a sua generosidade e toda a sua alegria.
Rox Lawson. Ensueño. 1.20 x 90 . Oil on canvas
Rox Lawson. Laguna. 2.60 x 1.00. Técnica mixta.
Rox Lawson. Tormenta. 50 x 50. Oil on canvas
Rox Lawson. Rotación. 50 x 50. Oil on canvas.
Rox Lawson. Mitos y leyendas. 1.60 x 1.00. Técnica mixta
Photos by Maria Virginia Fiorini
Rox Lawson. Sintra. Portugal. Para visitar a sua web carregar aqui.
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Na Boca do Inferno
Vim a Comala porque me disseram que aqui vivia meu pai, um tal Pedro Páramo
Entardecer na Boca do Inferno. Arrasto-me com passos cansados entre rochas salpicadas de tomilho. À minha direita o horizonte vai engolindo a esfera incandescente que pinta de vermelho as nuvens. Maré alta, as ondas rasgam rugas no granito. Escolho uma rocha lisa e sento-me a olhar as gaivotas de jaspe: pinceladas sólidas que varrem a costa entre gemidos e se vão esfumando rumo ao Guincho, as areias da tua infância.
Um pássaro brincalhão geme ao rasar o solo, imitando um queixume de criança. Mais além ouviu-se dar um soluço de cansaço e todavia mais longe, onde começava a abrir-se o horizonte, soltou um grito e uma risada, para voltar a gemer depois.
A brisa envolve a tarde de murmúrios secos e espraia-se até à baia desenhada em azul tornezol. Ao longe um sino deixa no ar oito lamentos de eco metálico. A lua intermitente do farol de Santa Marta prepara a chegada do pôr do sol. Um corvo marinho lança, em espirais, as asas pardas às correntes oceânicas. Depois sobrevoa as rochas afogadas em espuma à procura de sustento. A visão é o seu voo solitário.
Faltava muito para o amanhecer. O céu brilhava de estrelas gordas, inchadas de tanta noite. A lua mostrara-se e escondera-se. Era uma dessas luas tristes que ninguém olha, de quem ninguém faz caso. Esteve ali por instantes desfigurada, sem dar qualquer luz, correndo a esconder-se atrás dos montes. (Juan Rulfo. Pedro Páramo)
Fecho os olhos e tento reter as imagens prenhes de beleza na necessidade de esbater a tua infinita ausência.
Boca do Inferno. Foto: C. Huerta
Pedro Páramo. Juan Rulfo. Obra Reunida. Traduçao: Ruí Lagartinho, Sofía Castro Rodrigues, Virgílio Tenreiro Viseu. Cavalo de Ferro Editores. 2010.
Traducçao do Espanhol En la Boca do Inferno : Xico N. F.
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Alegrias de Nadal
(Post traducido por Xico N. F. del español Nadal en el Bernabeu).
Anoitece no estadio Bernabeu. Ajax e Real Madrid preparam-se para o jogo da noite. Um jovem moreno vestido com cores escuras atravessa o relvado recebendo a ovação daqueles que o reconhecem da bancada. Para trás ficaram malas, aviões e uma final meteórica sobre o cimento novayorquino. Outra grande vitoria de nadal contra o calor, o vento e a chuva, no maior court do planeta.
Rafa Nadal volta a levantar-nos o ânimo com suas vitórias de gala. Proezas que esculpem êxitos nas paginas da história. 9 grandes, 4 na mesma temporada com apenas 24 anos, 33 ATPs, com um novo bolar imbatível a duzentos e desassete Kms/hora. Vitorias que se convertem em mitos. Pregunto-me qual o sonho deste filho previligiado de Manacor. Um campeão com o coraçao no Olimpo e a cabeça na sua terra. O melhor embaixador de Espanha para além fronteiras.
Impressiona a simplicidade dos seus comentários na rede. Vou sair a jantar com a minha equipa e a familia. Que pena a chuva! Que se há de facer! Amanhã será outro dia. As fotografias que tira com a equipa, o pai e o tio Toni. Mc Enroe pregunta-lhe se pensou em mudar de treinador agora que atingiu o top. Não me veio de todo a mudar de treinador. Sempre estivemus assim, bem, não preciso de nada mais. E a que objetivos se propoe. Tenho que melhorar o segundo bolar. Trabalho sem treguas, dia a dia, bola a bola, sempre a pensar no futuro, sempre rodeado pelos seus.
Oxalá o destino lhe seja risonho e proteja esse corpo titanico e essa mente de campeão em todos os seus sonhos. E nós possamos sempre dar-lhe, apartir das bancadas, com admiração e carinho, o ânimo de que precisa e merece. Vamos Rafa, Vamos.
Alegrias de Federrer e Nadal na promoçao do seu Match for Africa.
Almas cinzentas
De alma entristecida percorro de um lado a outro esta cela vazia. Meu corpo exita, não sabe onde ir. Nehum lamento, nenhuma alegria. Apenas paz e silêncio. Demasiado silêncio. Á força de desfiar recordaçoes tuas fiquei em branco, tão em branco como as nuvens que me cercam depois que senti pela ultima vez teu respirar. As nuvens que aprisionaram a minha nostalgia num último abraço.
Nuvens, suão, cinzas. Não quero escrever mais letras. Quero voltar atrás no tempo e procurar-te. Refazer a mala, despedir o taxi, esquecer a ultima chamada no aeroporto e secar as lágrimas diante de uma janela aberta sobre um azul infinito. Fechar os olhos e fundirme com os cumulos que desenharam as nossas noites, longe de pesares e tristezas, longe do agora.
Sinto uma raiva cega guiando os meus dedos. Não olho ao que escrevo, não quero mais desejos afogados em lágrimas. Apenas quero ouvir o leve martelar das teclas no vazio do sala. Letras brancas em fundo negro iguais ao abismo negro das minhas recordaçoes. Anseios, desejos, sonhos que se esfumam para sempre num aroma a impregnar esta noite de lua sem lua. Volta depressa, volta antes que a minha solidão tinja de cinzento minha alma.
As coisas não são brancas nem pretas, o que existe é o cinzento. Os homens, a suas almas… também assim. Tu eras uma alma cinzenta, irremediavelmente cinzenta, como todos nós…
– Isso não são mais que palavras…
– E que te fizeram as palabras?
(Philipe Claudel. Almas tristes)
Foto: C. Huerta
Con agradecimiento a Xico N. F. por su excelente traducción. Un verdadero regalo para mis letras.
Almas Grises. Philippe Claudel. Traducción de José Antonio Soriano. Editorial Salamandra. Barcelona. 2009. 222 págs. Premio Renaudot 2003. Libro del Año de los libreros franceses y de la revista Lire.
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Estrelas No Tavares
(Post traduido pelo Xico. N. F. do Espanhol Estrellas en Tavares)
Obscuridade e silêncio. A Marginal, como um túnel de silêncio sob um céu sem lua. Abro a janela para limpar as gotas de humidade coladas ao vidro. À esquerda um abismo sem fundo de marés. Como que escuto um lamento continuo de cem mil almas enredadas na espuma. Um lamento que nos aperta a alma. O ar inunda-se de maresia e dilui-se no paladar que se acende nas essencias marinhas do Tavares.
Deixamos para trás a chuva de Cascais e juntamo-nos à familia lusa, neste espaço recuperado do Chiado, o coração de Lisboa, pela nova cozinha do chefe Jose Avilez. As portas de nogueira do Tavares são um símbolo da rua da Misericordia há já duzentos anos, enquanto nas paredes douradas os espelhos venezianos guardam momentos relevantes de uma certa historia de Portugal. As sombras de Eça de Queiroz, Guerra Junqueiro, Ramalho Ortigão pairam entre as mesas onde agora nos sentamos. Um privilégio.
Murmúrios de promessas, saudações e acordos voltam ao restaurante mais antigo de Portugal, entre pratos helicoidais que disperçam aromas de mar e campo. A imaginaçao de José Avilez redifinindo sabores e texturas da tradiçao lusa. Perfeccionista e ousado Avilez tem a seu cargo desde há dois anos, obtendo com a sua intuiçao e saber a liderança da cozinha da sua terra, os fogões do Tavares.
Robalo do Tavares. Foto: C. Huerta
Escolho uma salada de verduras e flores na justa medida e um robalo cozido a baixa temperatura que se desfaz num paladar com vestigios de ondas marinhas, provávelmente o melhor robalo que alguma vez comi. Pregunto a José Avilez o seu segredo. Mantido em vácuo, vinte minutos em banho María a 54º, com “água do mar” de cozer as algas e bivalves que o acompanham. Elaborado conforme as leis culinárias deste jovem chefe formado com Ferrán Adriá e Alain Ducasse. Supremacía do sabor, técnica ao serviço dos productos mais frescos, actualização da tradição portuguesa. Un milagre da cozinha moderna.
Jantar no Tavares é um ritual. A apresentação e os vinhos transladam-nos às melhores mesas de Paris ou Londres. O salão rebrilha com a estrela Michelin que recebeu em Novembro 09. Cada prato requer o seu tempo, um tempo que revive o sossego das tertulias do dezanove e permite compartilhar uma boa mesa. Nós tivemos sorte. Recarregámos o gosto de novos sabores e o coração com as palavras de quem mais nos quer. Um Luxo.
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Lisboa
(Post traduido pelo Xico N.F. do Espanhol Desde Lisboa)
Os últimos raios do crepúsculo tingem de âmbar os azulejos das fachadas centenárias na margem do estuario. Testemunhas privilegiadas dos afãs das conquistas, com suas portas estreitas e varandas gastas pelas mãos crispadas da espera. Para além da calçada azul e branca passam as aguas apressadas do amplo caudal que na primavera trazem cheiros de morangos e cerejais e, no outono, pedaços de sobreiross que se irão perder nas correntes profundas do oceano.
O Sr. Bernardo sobe com dificultade o passeio empinado. O calor e a humidade começam a ceder com o fim da tarde, avivando os seus passos curtos. A seu lado,vão passando as montras atulhadas de livros antigos, tecidos e loiças. E mais acima, lojas de marca de fachadas brillantes construidas após o incêndio. A rua desemboca numa praça onde um olmo partido faz companhia a uma esplanada inundada de aromas de café e especiarías.
O Sr. Bernardo deixa-se cair numa cadeira, descobre a cabeça e limpa o suor com un lenço de linho. Um criado cumprimenta-o enquanto lhe serve uma bica e dois pasteis de nata. Vai bebendo a pequeños goles procurando entre a gente desconhecida a cara de algum amigo de sempre. Abre um caderno de capas pretas e recorda memorias nas palabras que escreve.
A noite fecha-se sobre a cidade e o barulho de gentes e carros desvanece-se. Una guitarra acompanha um canto longinho que a briza do rio leva tambem até o mar. As estrelas brilham sobre as colinas cobertas de sombras fundindo-se com os cabos incandescentes da estrutura de aço que liga a cidade aos seus destinos. O canto solitario de um galo, algures num pátio vizinho, quebra, de quando em quando, o silncio da madrugada.
Segundo Bernardo Soares, alter ego do Fernando Pessoa. “Livro de Desassossego”. Editora: Relógio d´Água. Ediçao de Teresa Sobral Cunha. 2.008. 655 págs.
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